quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Contos De EmBalar

Conto Um


   Estava num dia que não estava para aturar merdas.
   O gajo à minha frente insistiu em lamuriar-se como um bebé quando lhe dei duas bordoadas para ver se atinava.
   Como eu disse… não estava para aturar merdas...
   O tipo lembrou-me, como se eu me fosse esquecer, que era meu irmão. Isso irritou-me profundamente. Detesto chantagens. Pensei em sacar da .35 e esborrifar-lhe os miolos na bonita parede azul-bebé, mas, isso ia me irritar ainda mais, sendo ele um convidado em minha casa e os convidados, simplesmente, não andam por aí a esborrifar com miolos a parede azul-bebé dos anfitriões.
   Decidi experimentar explicar as cenas à minha maneira, clara e sucintamente, como se explica a uma criança ou a um bicho de quatro patas.
   “Fizeste merda! Vais ter que pagar”
   Olhou para mim com aquele ar de bebé chorão de beicinho tremelicando e adiantei:
   “ Mandaram-me limpar-te o sebo, mas, como sempre foste um gajo porreiro e até és meu irmão, fico-te só com uma orelha. Depois pões-te nas putas da parvónia e nunca mais ninguém te bota a vista em cima”
   Isto ia deixar uma ponta solta no meu currículo e eu não gosto de deixar pontas soltas. Mas o gajo ainda era só um puto e também só atropelou o cão do velho! Acho que se o velho soubesse que o tipo que mandou matar era seu filho acabaria por achar o gesto bonito.
   Passei-lhe a pinga que trago sempre comigo. A pinga ajuda sempre.
   O puto gritou desalmadamente.
   Yape! O dia começou merdoso. Como todos os dias em que se dorme merdosamente e isso estava a acontecer com mais frequência do que desejava. Podia ser da consciência mas a minha andava bastante limpa não vá eu confessar-me semanalmente.